Alguns jogos eu só consegui zerar porque era criança. Revenge of the Shinobi é um deles. Eu gastei semanas para terminar o maldito. Me lembro de passar tardes inteiras preso em uma fase ou outra. Eu provavelmente testei todas as combinações do labirinto. E por aí vai.
É também um dos jogos de Mega Drive que mais tenho carinho. Talvez porque eu derrotava o Batman e o Homem-Aranha (meus amigos não acreditavam). Talvez por causa de todo o esforço. E certamente porque o jogo era lindo. Ele gritava Japão a cada segundo. Já deixei o controle de lado, só para olhar o cenário. Florestas de bamboo, templos vermelhos e brancos, as roupas.
O problema é que Revenge of the Shinobi não é o melhor jogo de ninjas para Mega Drive. Shinobi III é. Ou pelo menos é o que sempre ouvi depois que fiquei adulto. Mas eu nunca tinha jogado Shinobi III, nem sequer visto o cartucho quando era criança. Ficou na lista, até que a Sega lançou o jogo como 3D Classics para 3DS.
Para quem não sabe a Sega (e em menor dose a Nintendo) tem relançado jogos antigos para 3DS com efeitos 3D. É bacaninha, deixa os jogos mais imersivos e o resultado final é bem feito. E é portátil, então eu não tinha desculpa: tinha que jogar.
Shinobi III é incrível.
Sério mesmo. E o melhor de tudo é a ambientação.
Ninja Gaiden, pra Nintendinho, tem uma ambientação ótima também. Você viaja pelo mundo, e você se sente um ninja de verdade. Rápido, preciso, silencioso. É um ninja mais tradicional.
Já em Shinobi III é tudo sobre ser um ninja, usando palavras da época, radical. Na primeira fase você anda por uma floresta matando outros ninjas. Depois entra numa caverna com água pingando de estalactites e empoçando. Enfrenta mais ninjas e alguns chefes em sequência. Tudo muito tradicional.
Mas aí você vai pra segunda fase, onde você já começa andando a cavalo e matando ninjas que chegam voando em pipas gigantes. O chefe é um ninja que joga lanças e quer evitar que você chegue a base secreta. Você mata ele a cavalo. Entra na base secreta e sai matando todo mundo, até chegar ao boss final: um cérebro anexado a um robô voador que te ataca.
A fase quatro é tão épica quanto: você começa surfando, e mata ninjas que chegam jogando granadas montados em motos voadoras tipo as de Star Wars. O jogo é cheio destes momentos wow. Não importa fazer muito sentido. Importa ser épico. E nisso os caras da SEGA se superaram.
E não é apenas a variedade que surpreende. O jogo é lindo. Visualmente tudo tem níveis e é bem detalhado. Alguns chefes são enormes, cobrindo uma boa parte da tela. A trilha sonora empolga (mesmo no 3DS com aquele maldito controle de volume que escorrega).
Shinobi III é, também, um jogo justo. Cada fase é dividida em vários pequenos blocos, muitas vezes com bosses no final. Você morre e não tem que voltar ao começo da fase, você volta no começo destes blocos. Morreu lutando contra um boss? Você volta nele. Morreu até dar continue? Não tem problema, você continua a lutar contra o chefe, até passar. Não tem punições idiotas que eram tão comuns na época. O jogo quer te marcar pela experiência épica, não pelo sofrimento.
Infelizmente é notável que faltou tempo ou dinheiro. As últimas fases são bem piores que as primeiras, apelando para uma precisão que não existe e usando impedimentos como buracos sem fundo. Algumas vezes é preciso de sorte, e não habilidade, para passar, o que o jogo tinha evitado fazer até o momento.
Mas mesmo isto não tira o brilho do jogo: Shinobi III, com seu enfoque na diversão e na experiência, está muito à frente do que era feito na época.
PS: Peguei as screenshots do excelente site HardcoreGaming101